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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

02 de Dezembro - O Dia Nacional do Samba



O samba nasceu na Bahia no século XIX da mistura de ritmos africanos, dos cantos e danças que os escravos negros da África trouxeram para o Brasil, na época do tráfico negreiro. Os principais instrumentos que acompanhavam o samba eram o corá (atual cavaquinho), a "mola" (atual reco-reco) e o "tantan", depois de enfrentar os preconceitos, o gênero passou a incluir outros instrumentos em seu repertório, como o violão, o trompete, a flauta, entre outros, passando inclusive a ser representado por orquestras e artistas de renome tanto no cenário local quanto no internacional.

O gênero surgiu da mistura do jongo, do lundu e da semba (termo angolano que significa umbigada), danças de roda que ocorrem mais acentuadamente no Sudeste e Nordeste, com os toques dos tambores do candomblé da Bahia, Pernambuco e Maranhão. Dessa maneira, antes de surgir o gênero musical “samba”, o termo era sinônimo de festa. Pesquisadores do assunto relatam que o termo “samba” tem origem no termo africano “semba”, que era comumente utilizado para designar um tipo de dança onde os dançarinos aproximam seus ventres fazendo uma “umbigada”. 

Esses ingredientes, agregados a outros de origem  indígena, por exemplo, formaram, no começo do século 20, pela mão de Ismael Silva, Nilton Barros, Heitor dos Prazeres, Noel Rosa, Pixinguinha, João da Baiana, Jacó do Bandolim, Jackson do Pandeiro, Zé Kéti, Angenor de Oliveira (Cartola), Dalva de Oliveira, Caubi Peixoto, Ataulfo Alves, Dona Ivone Lara, Dolores Duran, Marlene, Isaura Garcia, Chiquinha Gonzaga e outros, o gênero conhecido como samba, que foi estabelecido no Brasil no período colonial, com a chegada dos africanos ao Brasil. 

Nesse período, percebemos a ocorrência de dois importantes fatos históricos: a Abolição da Escravatura, em 1888, e, no ano seguinte, a Proclamação da República. Com a abolição da escravatura e o declínio da produção de café, um grande contingente da população negra do Brasil abandonou o campo e passou a buscar meios de sobrevivência nos centros urbanos do país. Muitos desses ex-escravos começaram a sair das fazendas da região norte-nordeste em direção à cidade do Rio de Janeiro (então capital brasileira).

Uma das formas mais comuns pelas quais os negros reafirmavam seus laços de amizade e cooperação ocorria durante as festas nas casas das “tias” ou das “vovós” (como as casas da tia Ciata e da tia Josefa). “(...) a casa da Tia Ciata (Hilária Batista de Almeida) foi o berço do primeiro samba gravado: “Pelo Telefone”, de Donga (Ernesto dos Santos) em 1917, que foi registrado em forma de partitura e letra na Biblioteca Nacional e era cantado por Bahiano (Manuel Pedro dos Santos). Foi composto em 1916 no quintal da casa da baiana Tia Ciata,  e tinha a participação de João da Baiana (João Machado Guedes), Pixinguinha (Alfredo da Rocha Viana), Caninha (José Luís Morais) entre outros. Diz a lenda que um samba para alcançar sucesso teria que passar pela casa da Tia Ciata e ser aprovado nas rodas de samba das festas, que chegavam a durar dias. As canções do samba eram criadas de improviso durantes as rodas de danças.


Pelo Telephone - Registro da Biblioteca Nacional

Mas, o samba era considerado um gênero musical “maldito”, segundo o historiador Adalberto Paranhos, era a “música das camadas baixas”. Essas “camadas” da sociedade foram “empurradas”, para os morros e bairros distantes do centro do Rio de Janeiro, daí o fato de o samba estar tão ligado às favelas cariocas.

Apesar do preconceito às reuniões negras que deram origem ao samba, o ritmo conquistou o mercado fonográfico com a inauguração do rádio em 1922 – único veículo de comunicação em massa até então –, alcançando as classes médias cariocas. O novo estilo seria, ainda, abraçado e redimensionado por filhos de classe média, como o ex-estudante de Medicina Noel Rosa e o ex-estudante de Direito Ari Barroso, compositor do primeiro grande sucesso do gênero: ''Aquarela do Brasil'', gravada em 1939 por Francisco Alves. Desde então, vários nomes se destacaram na composição do repertório do samba, como: Dorival Caymmi, Adoniran Barbosa (Trem das Onze), Lupicínio Rodrigues, Baden Powell, Vinicius de Moraes e muitos outros.

O Dia Nacional do Samba surgiu por iniciativa de um vereador baiano, Luis Monteiro da Costa, para homenagear Ary Barroso. Ary já tinha composto outro sucesso: "Na Baixa do Sapateiro", mas nunca havia posto os pés na Bahia. Esta foi a data que ele visitou Salvador pela primeira vez. A festa foi se espalhando pelo Brasil e virou uma comemoração nacional.

No ano de 2004 o Ministro da Cultura, Gilberto Gil, apresentou à UNESCO o pedido de tombamento do gênero "Samba", sob o título de "Patrimônio Cultural da Humanidade", na categoria "Bem Imaterial", através do Instituto Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). No ano de 2005, o samba-de-roda do Recôncavo Baiano foi proclamado pela UNESCO "Patrimônio Cultural da Humanidade" na categoria de "Expressões orais e imateriais".




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